quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Like a bird in the sky...


Flórida, 24/11/2007


Que maravilha seria se a semelhança com o Brasil tivesse ficado só no clima agradável, no mar azul, na brisa fresca... Hoje, especialmente, começo minha história pelo fim. Pelos últimos momentos de um feriadão atípico de cinco dias nos Estados Unidos da América. O vôo está atrasado. Atraso brasileiro, diga-se. Sabe-se lá porque, estou há quase quatro horas dentro de uma aeronave lotada, em terra firme. A criançada impaciente chora. Minha cabeça está a ponto de explodir. “Estará o tempo tão ruim em New York que não temos condições de decolar?”, me pergunto a cada dois minutos. Lembrei das aulas de Pescom, na UnB... Os ponteiros do meu relógio inexistente andam para trás... E eu, mais uma vez, comprovo minha capacidade ímpar de abstração... SS pra mim. Suspiro com paciência e levanto vôo para três dias atrás, quando meu temperamento impulsivo, apreço pelo perigo e incapacidade de dizer não me colocaram em uma das mais alucinantes experiências da minha vida. (Comparável apenas ao dia em que explorei um vulcão nevado em plena Patagônia...) Enfim... A situação era praticamente a mesma, mas o avião, aproximadamente, 20 vezes menor. Também não tinha acentos. Aliás, tinha um, o do piloto. Para o resto da tripulação – eu e mais duas pessoas, no caso – um carpete surrado estava de bom tamanho... Do meu lado, alguém, tentava me fazer fixar todo o procedimento. Eu, gélida, estática, respirava fundo e observava com atenção a altitude aumentar progressivamente. Na mesma proporção, sentia meus batimentos cardíacos ganharem força e velocidade. Estou presa a um outro corpo por cordas e mosquetões. Dez mil pés. Meu coração está na boca. A porta se abriu a minha frente. Tudo é muito rápido. Alguém me atira para fora. Dois segundos até meu cérebro processar a queda livre e .... estou voando.... voando.... Sensacional... O vento me ensurdece. Alguns segundos depois, o pára-quedas se abre. Um trancão e me sinto como se estivesse sido embalada a vácuo. O tempo pára. O silêncio impera. O sol brilha na lona colorida do equipamento e a vista lá em baixo é de tirar o fôlego. Podia congelar essa imagem para todo o sempre. Minha vida toda passa pela minha cabeça durante os 35 segundos de zigue-zague no céu azul... penso em alguém... queria que ele estivesse aqui agora... Grito o seu nome e deixo, mais uma vez, ele marcar o meu momento. Rio sozinha... Meus pés sentem o chão. Minha vida já não é mais a mesma.