quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Nós, os palhaços


NY 10/10/2007


A Anita veio toda orgulhos me mostrar o texto, muito bem escrito por sinal, em que sua irmã mais nova é citada como uma das grandes promessas para o teatro brasileiro. Bah! E não é que a guriazinha, do alto de seus 13 anos, colocou o nariz de palhaço, subiu no picadeiro, encarou, com a segurança que nem os mais experientes desfilam, uma platéia de sei lá quantos e arrancou sorrisos e gargalhadas até dos mais avessos à palhaçada. Não conheço a corajosa Nina, mas me orgulhei de seu potencial revelado e reconhecido. Enfim... o fato é que lendo sobre a arte do palhaço, e sobre o quão difícil, por mais contraditório que isso possa parecer, é fazer pessoas sorrirem, encontrei uma espécie de lição, que serve pra todo mundo. Porque no fundo, bem lá no fundo, somos todos um bando de palhaços tentando nos desviar dos tomates nesse enorme picadeiro. E, sim, agoniza um frio na barriga só de pensar que alguém pode querer mirar um tomatão em você. E mais ainda que o tomate, as latas de cerveja os cascas de banana podem te acertar e até te derrubar. E aterroriza pensar que você vai ter que levantar e encarar toda a platéia de novo. ‘Eles vão achar que eu sou um palhaço’, você sua frio e pensa cheio de orgulho. Mas, peraí, não é exatamente essa a proposta?
A queda é parte do jogo, minha gente. Do palhaço em cima de palco, e dos palhaços embaixo dele. A questão é a importância que você dá a ela. E isso pode determinar inclusive o nível do seu desenvolvimento. Ou seja, assim como é impossível um palhaço ensaiar e não se apresentar, não podemos nós treinar e não jogar, não se arriscar, não cair. Afinal, é mais digno perder lutando do que nem tentar. E uma vez que a adrenalina cumpre o seu papel, todo o resto entra no ritmo.
“No início, o corpo é duro, débil, o pensamento não se conecta com o corpo e você só apanha, cai, fica imobilizado, sem reação. E assim você caminha, até que, com o tempo, seu corpo vai adquirindo um certo molejo, esperteza, e, aos poucos, aumenta
a capacidade de improvisar dentro daquele repertório de movimentos, de surpreender. O aluno aprende a jogar jogando e, conseqüentemente,aprende a cair”, dizia o texto.

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