quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Tic-tac-tic-tac


NY, algum dia de novembro de 2007


Seis e vinte da tarde. Acabei de entrar em sala de aula e me acomodar na cadeira. A sensação de sentir meus músculos descontraírem um a um é quase orgásmica. É a primeira vez que me sento ao longo do dia... Passei as últimas seis horas ou mais ziguezagueando entre as cinqüenta mesas do restaurante em que trabalho. Distribuindo sorrisos amarelos e esbanjando simpatia para quem nunca aprendeu a ser simpático (Pela simples razão de não precisar ser). Me esquivo de fazer qualquer esforço para entender a conversa que se desenrola a minha frente. Quero aproveitar esse momento. Sentir meu corpo relaxar e esquentar. Assistir meus dedos ganharem cor novamente... Sim, esfriou por aqui.Termômetros já marcam 32 graus Fahrenheit. O que isso significa? Experimente passar alguns minutos dentro de um congelador... Celsiusamente falando, zero grau. Nada mais, mas, muito provavelmente, menos. Questão de dias.
A chegada o inverno anunciada pelo Halloween reflete no astral das pessoas. No meu, principalmente. Me abstenho de fazer qualquer associação à data. Confesso não ser mística o suficiente para creditar uma sucessão de acontecimentos infelizes ao dia das bruxas. Mas não tenho como negar uma estranha coincidência. Será que deveria ter dado doces para aquelas crianças gordinhas de bochechas rosas que bateram na minha porta no último dia 31? Diz-se por aqui que o infeliz que não corresponde ao tal do trunk-or-treat está condenado a um ano sombrio e será atormentado por mortos-vivos nos próximos 12 meses. Sim, presentear as pequenas bruxas e franksteins com guloseimas variadas é a garantia de que sua alma será salva. E eu que pensei que não contribuir para a obesidade precoce dos americaninhos seria um bom negócio nessa história de pecados. Whatever. O fato é que simultaneamente aos ventos cortantes, uma crise familiar, uma intoxicação alimentar, quinhentos dólares debitados e não sacados e uma TPM sem precedentes tiraram a minha paz(ou algo parecido) nessa vida que palpita no meio da maior confusão da oitava avenida. Com todo o drama que me é peculiar, mergulhei num mar de questionamentos. E acuada pela opinião alheia, me tranquei em meu cubículo com vista para os fundos de um restaurante mexicano. Que sorte a minha. O dono deixou uma única árvore, já quase sem folhas, para me conectar, ainda de maneira imprópria, à energia da natureza. O sol não me alcança dali. Mas posso perceber sua coadjuvante presença nesses dias frios, quando me esforço para enxergar a copa do meu amigo eucalipto. Tenho coisas a fazer. Várias delas. Escrever e.mails, estudar, procurar um emprego mais excitante... Tenho que ligar para alguém? Provavelmente. Em vez disso, fico sonhando com as possibilidades. Taí. Virei prisioneira de tantas possibilidades. Ter muitos caminhos a escolher me paralisa. Essa imersão em meus pensamentos me atormentam. Olho ao meu redor. O tempo não passa. Um café. Café ajuda a passar o tempo. Outro ensinamento dos tempos corridos de redação.
Minha barriga roncou. Acabo de me lembrar que não coloquei nada no estômago além de diferentes sabores e variações de café...
“Do you have any questions?” Uma voz longínqua me força a aterrisar.
“None. This has been hopeful. Thank you”, respondi de sopetão.
Voltei. Oito e quarenta da noite. Acabou a aula. Preciso comer alguma coisa.

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